· Artigo  · 13 min de leitura

Albert Schweitzer: O Homem

Um resgate histórico aprofundado da história de Albert Schweitzer, teólogo, filósofo, organista e médico missionário que é patrono de nosso Grupo Escoteiro.

Um resgate histórico aprofundado da história de Albert Schweitzer, teólogo, filósofo, organista e médico missionário que é patrono de nosso Grupo Escoteiro.

Albert Schweitzer (14 de janeiro de 1875 - 4 de setembro de 1965) foi um teólogo, filósofo, organista e médico missionário alsaciano-alemão na África equatorial, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1952 por seu trabalho humanitário.

Schweitzer nasceu em Kaysersberg, Alsácia Superior, Alemanha (agora na França) em uma família que por gerações se dedicou à religião, música e educação. Seus pais eram Louis Théophile Schweitzer, pastor luterano, e Adèle Schillinger, filha de um pastor. Ambos os seus avós eram organistas talentosos, e muitos de seus parentes foram pessoas de realizações acadêmicas. A família vivia em uma casa grande com seus cinco irmãos: Marie-Thérèse (1871-1958), Alfred (1873-1915), Otto (1874-1951) e Emil (1880-1959). Schweitzer tinha uma boa relação com seus irmãos. Os outros cinco eram mais jovens que ele, mas nunca sentiu inveja ou ressentimento por causa disso. Quando tinha sete anos de idade, sua mãe faleceu subitamente devido a um ataque cardíaco. Sua morte foi devastadora para todos na família e causou grandes mudanças em sua vida.

Schweitzer estudou na escola primária de Estrasburgo até 1889. Então, foi para um internato em Colmar onde ele estudou matemática, física e química. Também estudou teologia e filosofia na universidade de Heidelberg entre 1894 e 1896.

Aos 18 anos, Schweitzer ingressou na Universidade Kaiser Wilhelm de Estrasburgo para estudar teologia, filologia e teoria da música.

Em 1897, Schweitzer foi ordenado como pastor luterano em Kevelaer, mas não se sentia feliz em Kevelaer. Ele escreveu em um de seus diários: “Eu gostaria de sair daqui, mas não tenho dinheiro suficiente para me sustentar.”

Então ele progrediu para estudar para seu Ph.D. em teologia em 1899 na Universidade de Estrasburgo. Já numa manhã de 1896, enquanto passava as férias de Pentecostes em Günsbach, foi tomado pela ideia de que não deveria aceitar essa felicidade como algo completamente natural, mas como algo que ele deveria pagar por ela. Pensando sobre o assunto, concluiu que até a idade de 30 anos, se entregaria à ciência e à arte para, a partir dali por a vida a serviço direto do próximo. Para Schweitzer, parecia inconcebível que ele levasse uma vida feliz enquanto havia tantos homens lutando sofrendo.

Quando assumiu a direção do Instituto Teológico São Tomé, diante da espaçosa residência, tentou acolher crianças abandonadas, mas as organizações de socorro a crianças abandonadas não admitiam a colaboração de voluntários. Mesmo quando o orfanato de Estrasburgo pegou fogo e Schweitzer se ofereceu para abrigar provisoriamente alguns meninos, o diretor sequer o deixou terminar a proposta. Também sem sucesso tentou se dedicar a ex-condenados e pessoas sem teto.

Ele serviu como pastor em paróquias de Düren e Elberfeld até 1910.

Entretanto, certa manhã, no outono de 1904, no Instituto São Tomé, encontrou sobre uma escrivaninha um dos fascículos de capa verde em que a Sociedade Missionária de Paris relatava suas atividades. Abriu o fascículo meio distraído, enquanto começava a trabalhar. Foi quando seus olhos se depararam com o artigo intitulado “Les besoins de Mission du Congo” (As necessidades da Missão do Congo) no Journal des Missions Evangéliques (publicado em junho de 1904, p. 389-393). Era de autoria de Alfred Boegner, alsaciano como o próprio Albert, diretor da Sociedade Missionária de Paris, o qual se queixava da falta de pessoas na Missão para levar adiante a obra em Gabão, província do sul da colônia do Congo. No artigo, expressava a esperança de que esse apelo levasse à decisão aqueles “sobre os quais já pousava o olhar do Mestre”, a fim de que se oferecessem para o trabalho urgente. Finalizando, dizia “A Igreja precisa de homens que respondam simplesmente ao aceno do Mestre com estas palavras: Senhor, ponho-me a caminho!”. Terminada a leitura, retomou o trabalho, a sua busca havia chegado ao fim.

No dia 13 de outubro de 1905, enviou cartas a familiares comunicando sua decisão de começar a estudar medicina para, mais tarde, trabalhar como médico na África equatorial. Numa das cartas, em vista do quanto o ocuparia o estudo próximo, solicitava demissão do seu cargo de diretor do Instituto Teológico de São Tomé.

Naturalmente, as ideias de Albert não foram bem recebidas pela família e não faltou quem duvidasse de que ele estivesse no seu juízo perfeito, afinal, sendo músico, como largar a fama de concertista internacional? Sendo construtor de órgãos, como abrir mão da notoriedade? Sendo filósofo de renome, que sentido faria abandonar a cátedra acadêmica? E como teólogo de reconhecido valor, como abdicar do púlpito da igreja luterana? Schweitzer chega ao ponto de escrever que lhe dói ver tantos teólogos permanecerem à margem da ação proposta por Paulo na epístola aos Gálatas e conclui dizendo que era um alívio encontrar pessoas que não procuravam lhe vasculhar o coração, mas apenas lhe olhavam como a um jovem ligeiramente desvairado e o tratavam com amável ironia.

Schweitzer foi para Paris em 1905 onde estudou medicina no Collège de France sob o professor Émile Durkheim e no Instituto Pasteur sob o diretor Charles Richet, apesar de afirmar que o professor Fehling, então decano da Faculdade de Medicina, ao saber de seus planos, teve vontade de encaminha-lo ao seu colega da psiquiatria. Foi um dos primeiros professores a ter uma licença para pesquisa em sua própria tese de doutorado. Ele escreveu mais de 50 livros e milhares de artigos, ensaios e conferências e concluiu seu doutorado em 1912 com uma tese sobre a teoria da imunização que descreve os métodos da vacinação contra o tétano e trabalhou como professor de teologia em Halle entre 1898 e 1905 na Alemanha.

Os primeiros meses de 1912 foram passados em Paris a fim de estudar medicina tropical, era o momento de passar, dentro da medicina, da teoria para a prática, preparando a viagem, as listas de compras, catálogos, escolha dos artigos, material de ambulatório, todo o material de um hospital e todo o material para montar uma casa no meio da mata virgem, completamente embalado e encaixotado! Em 18 de junho de 1912, casou-se com Helene Bresslau, filha de um historiador estrasburguense, que o auxiliou, mesmo antes o casamento, a elaborar os manuscritos, a revisar as provas tipográficas e a terminar os trabalhos literários que precisavam ser ultimados antes da viagem para a África.

Na primavera de 1912, abandona o magistério na Universidade e as funções na Igreja de São Nicolau, deixando para sua última prédica a palavra de Paulo na carta aos filipenses: “A paz de Deus, que está acima de toda razão, conserva vossos corações e sentidos no espírito de Cristo Jesus”. Deixar estes trabalhos foi muito doloroso para Albert, que até passou a evitar de passar próximo da Igreja de São Nicolau e da Universidade.

Em fevereiro de 1913, foram fechadas as 70 caixas e remetidas, via navio, para a África a partir de Bordéus. Na noite de 26 de março, embarcaram, Albert e sua esposa.

Por falta de pessoal, não foi possível aos missionários prepararem o pequeno barraco de folha de flandres onde Albert iria iniciar a atividade médica, assim, sua estreia se deu usando, como sala de consulta, um velho galinheiro ao lado de sua residência. Só no final do outono é que ficou pronto o barraco, com 8 x 4 metros, com uma sala de consultas, uma pequena sala de operações e uma farmácia ainda menor. Ao redor desta estrutura, foram surgindo, pouco a pouco, diversas cabanas de bambu para abrigar os nativos doentes.

A escolha de Lambaréné mostrou-se acertadíssima, de 200 a 300 quilômetros eram trazidos os doentes, de canoas, rio acima e abaixo, pelo rio Ogowe. As principais doenças eram a malária, a lepra, a doença do sono, a disenteria, a bouba, e úlceras fagedênicas; casos de pneumonia, doenças cardíacas e urológicas. As cirurgias eram principalmente de hérnias e tumores de elefantíase. A esposa de Albert, enfermeira formada, colaborava com grande eficiência, cuidando dos doentes graves, ocupando-se da farmácia, mantendo os instrumentos em perfeitas condições e respondendo pela narcose durante as cirurgias.

Quando já contavam na África dois anos e faziam planos de voltar à Europa, no dia 5 de agosto de 1914, deflagra-se a primeira guerra mundial. Na noite deste dia, Albert e a esposa recebem o aviso de que se considerassem prisioneiros, que permanecessem na residência e não tivessem contato nem com brancos nem com nativos. Proibido de trabalhar no hospital, Albert dedicou suas horas à escrita de um manuscrito dedicado, primeiro, à crítica, depois, à regeneração da cultura. Depois, liberado para trabalhar no hospital, sob o argumento de ser o único médico em toda a região, continuou a escrever.

Depois de trabalhar 12 horas por dia no hospital, ao chegar em casa, encontrava cães, gatos, patos, porcos e até emas para tratar, pois acreditava que “o erro da ética até o momento tem sido a crença de que só se deva aplicá-la em relação aos homens”.

Foi em setembro de 1915, ao fazer uma viagem fluvial em uma chata para atender a uma missionária situada 200 quilômetros rio abaixo, que, vendo um grupo de hipopótamos, que lhe ocorreu aquilo que ele não havia suspeitado nem procurado: “a reverência pela vida”. Ele havia encontrado a passagem que lhe permitira unir os conceitos de afirmação de mundo e de vida e a ética. Daí nasce a conclusão de que o defeito de toda ética, até hoje, consistiu em julgar que só lhe deve interessar o comportamento do homem para com o homem, mas, em verdade, lhe deve interessar o comportamento do homem para com o mundo para com toda a vida que entra no seu âmbito. O homem só é ético quando a vida como tal, quer da planta, quer do animal, quer do homem, lhe é sagrada e quando sai em socorro da vida periclitante.

Em 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial, Schweitzer e sua esposa, sendo cidadãos alemães em solo francês, foram colocados sob a supervisão dos militares franceses. No entanto, eles continuaram seu trabalho até 1917, quando ele adoeceu de exaustão e anemia. Depois disso, eles foram transferidos para um campo de prisioneiros na França. Desconfiado, deixou seus esboços sobre a filosofia da cultura aos cuidados do missionário norte-americano Ford, que trabalhava em Lambaréné.

Os Schweitzers foram presos, primeiro em Garaison e depois, a partir de março de 1918, em Saint-Rémy-de-Provence, antes de serem mandados para casa, na Alsácia, em julho de 1918, quando ele foi declarado livre. Posteriormente, tornou-se cidadão francês.

Schweitzer permaneceu na Europa pelos próximos seis anos, arrecadando fundos para seu hospital na África, dando palestras e concertos de órgão. Ele também fez outros cursos de medicina e escreveu vários livros.

Em 1922, ele deu várias palestras na Inglaterra. Das ‘Dale Memorial Lectures’ dadas na Universidade de Oxford, surgiram dois de seus importantes trabalhos, ‘A Decadência e Restauração da Civilização’ e ‘Civilização e Ética’. Publicados separadamente em 1923, foram posteriormente incluídos em ‘Filosofia da Vida’ como volume I e II.

Da série de palestras apresentadas em fevereiro de 1922 aos estudantes de teologia e missionários do Selly Oak Colleges em Birmingham, surgiu outra de suas importantes obras, ‘Cristianismo e as Religiões do Mundo’. Este também foi publicado em 1923 junto com seu quarto livro, ‘On the Edge of the Primeval Forest’.

Em 1924, voltou sozinho para Lambaréné. Com os fundos obtidos com royalties e taxas de atuação, ele imediatamente começou a reconstruir a estrutura e restabelecer seu hospital. Posteriormente, também começou a receber doações de todo o mundo.

Em 1925-1926, com outra equipe médica ingressando no hospital, ele assumiu a forma de uma vila, onde Schweitzer não era apenas médico e cirurgião, mas também administrador, superintendente de edifícios e pastor de uma congregação. Ainda em 1925, teve suas ‘Memórias da Infância e da Juventude’ publicadas.

Em 1927, ele foi para a Europa por dois anos. Desta vez, conseguiu deixar para trás um hospital mais organizado e, assim, sua equipe pôde continuar seu trabalho até seu retorno em 1929.

Apesar da agenda lotada, Schweitzer continuou a escrever, publicando outro de seus importantes trabalhos teológicos, ‘O Misticismo do Apóstolo Paulo’ em 1930.

Em 1931, publicou sua autobiografia, ‘Aus meinem Leben und Denken’ (Fora de minha vida e pensamento).

Em 1932, voltou novamente à Europa, dando palestras e recitais de órgão em todo o continente. Este também foi o momento em que ele possivelmente reiniciou a edição de Bach, iniciada em 1912.

Continuando a viajar e escrever, Schweitzer publicou outro de seus importantes trabalhos, ‘Pensamento indiano e seu desenvolvimento’. No entanto, de 1937 a 1948, foi forçado a permanecer em Lambaréné, principalmente devido à Segunda Guerra Mundial, naquele momento em curso.

Em 1940, enquanto morava em Lambaréné, ele teve que superar outro grande obstáculo. Por causa da guerra, suas linhas de abastecimento na Europa foram cortadas. Implacável, ele estabeleceu a Albert Schweitzer Fellowship para unir seus apoiadores americanos e, assim, preencher a lacuna.

Em 1949, Schweitzer viajou para os EUA, inspirando seus seguidores a servir os menos favorecidos. A partir daí, ele continuou a visitar diferentes partes da Europa enquanto sua saúde permitia, ao mesmo tempo em que expandia as instalações hospitalares de Lambaréné.

Em 1951 foi agraciado com o Prêmio da Paz da Associação Alemã de Editores. E, em 1952, com o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços humanitários, entretanto, só teve condições ir recebê-lo em outubro de 1953, quando pronunciou sua palestra ‘O Problema da Paz’, considerada um dos melhores discursos já proferidos. Os US$ 33.000 foram destinados a construção de um leprosário em Lambaréné.

A partir de 1952, começou a trabalhar contra testes nucleares e armas nucleares. Em 1957, ele fez quatro discursos na Rádio Oslo. Estes foram publicados em seu último livro, ‘Peace or Atomic War’. Também no mesmo ano, ele co-fundou o Comitê para uma Política Nuclear Sã.

Em seus últimos anos, viveu principalmente em Lambaréné. Quando ele morreu, em 1965, o hospital que fundou em um galinheiro tinha 72 prédios com 600 leitos.

Sofreu um derrame em 28 de agosto de 1965 e morreu em 4 de setembro de 1965, em Lambaréné, aos 90 anos.

Foi enterrado em seu hospital, mais tarde denominado Hospital Albert Schweitzer. Sua casa em Königsfeld foi transformada em um museu.

Ele enfrentou o preconceito, doenças e fome enquanto trabalhava como médico em Lambaréné. Schweitzer é também conhecido por sua atitude positiva e generosa diante de suas experiências. Considerado um dos maiores pensadores da história do século XX, ele é admirado por suas ideias sobre a vida e o amor, bem como por sua capacidade de se conectar diretamente com os leitores.

Alguns livros de Albert Schweitzer (em inglês):

  • Out of My Life and Thought: An Autobiography
  • Reverence for Life: The Words of Albert Schweitzer
  • The Quest of the Historical Jesus
  • The Mysticism of Paul the Apostle
  • The Light Within Us
  • Albert Schweitzer: An Anthology
  • J.S. Bach: el músico poeta
  • J.S. Bach, Volume Two
  • The Essence of Faith: Philosophy of Religion
  • The Wisdom of Albert Schweitzer
  • Albert Schweitzer: Essential Writings
  • The Animal World of Albert Schweitzer: Jungle Insights Into Reverence for Life
  • A Treasury of Albert Schweitzer
  • The Mystery of the Kingdom of God
  • The Decay and the Restoration of Civilization
  • Indian Thoughts and Its Development
  • Pilgrimage to Humanity
  • Memoirs of Childhood and Youth
  • On the Edge of the Primeval Forest: Experiences and Observations of a Doctor in Equatorial Africa
  • Albert Schweitzer Thoughts for Our Times
  • Albert Schweitzer for Himself
  • Kingdom of God and Primitive Christianity
  • The Problem of Peace

Referências

  • ALBERT SCHWEITZER. In Encyclopedia Britannica. 2023. Disponível em Encyclopedia Britannica. Acesso em: 11/04/2023.
  • ALBERT SCHWEITZER. In Wikipedia. Sem data. Disponível em Wikipedia. Acesso em: 10/04/2023.
  • ALBERT SCHWEITZER. In The Nobel Prize. Sem data. Disponível em: Nobel Prize - Facts e Nobel Prize - Biographical. Acesso em 14/04/2023.
  • 10 FATOS SOBRE ALBERT SCHWEITZER. In Fact File. 2014. Disponível em: Fact File. Acesso em 17/04/2023.
  • Dr. Albert Schweitzer, um renomado missionário médico com uma história complicada. In PBS News Hour. 2016. Disponível em: PBS News Hour. Acesso em 18/04/2023.
  • Albert Schweitzer Biography. In TheFamousPeople. Sem data. Disponível em: The Famouse People. Acesso em 16/04/2023.
  • SCHWEITZER, Albert. Minha Vida e Minhas Ideias. 1. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1931.
Compartilhe:
Voltar ao blog

Posts relacionados

Ver todos os posts »

História do GEAS

Conheça o desenvolvimento do Grupo Escoteiro Albert Schweitzer desde a sua fundação.

De volta à nossa Natureza

O cenário atual do Movimento Escoteiro pós pandemia no Rio Grande do Sul e a busca por uma reconstrução de identidade.